PAIS
DIVORCIADOS
Sentes-te dividido?
A vida depois do divórcio dos
pais é bastante difícil, e apesar do período mais difícil ser entre o 1º e o 2º
ano após o divórcio, os efeitos podem ser duradouros. Para as crianças, o
divórcio pode ser gerador de stress, tristeza e provocar confusão. Em qualquer
idade podem sentir-se incertas sobre a vida e revoltadas com os pais por estes
estarem separados.
P: Quais são os sentimentos
“normais” para jovens com pais divorciados?
R: Entre os jovens com pais
divorciados, existem muitos sentimentos que são comuns. Por vezes podem pensar:
1)
Que o pai é a causa da maioria dos problemas da
família
2)
Gostavam que os pais estivessem mais disponíveis
3)
Sentem que a sua infância foi difícil
4)
Pensam que poderiam ser diferentes se tivessem um
melhor relacionamento com os seus pais
5)
Não perdoam os pais
6)
Preocupam-se ao pensar que alguma coisa pode
acontecer quando os pais se encontram
Conselhos de como lidar com o
divórcio
1. Existe vida depois do divórcio: Tens
razão em pensar que nada vai ser como era antes do divórcio dos teus pais, mas
apesar das coisas mudarem não significa que não podem voltar a ter uma vida
boa. Pode ser numa casa diferente, com rotinas diferentes, mas existe vida
depois do divórcio. A escola continua, a
vida continua e, mais importante, é que tu continuas com a tua vida. As
crianças de divórcio têm vidas normais e com sucesso. Pode não ser fácil, mas
consegue-se sobreviver. Não é o fim da caminhada.
2. Não tens culpa do que aconteceu!
Infelizmente, os primeiros pensamentos que as crianças costumam ter quando os
pais se divorciam, são pensar que eles é que são os culpados. Mas não é
verdade. Os únicos que são responsáveis pelo que está a acontecer são os pais.
Eles é que são os adultos e têm que compreender a dimensão da decisão que estão
a tomar. Seja qual for o motivo, eles decidiram que o divórcio era a melhor
solução para a família. Apesar de gostarmos de pensar que poderíamos fazer
alguma coisa para mudar isso, a verdade é que a decisão está fora das nossas
mãos. Tu não és responsável pelo
falhanço do casamento dos teus pais.
3. Os teus
pais podem por uns tempos agir de forma diferente. É triste, mas é de esperar,
e pode durar durante algum tempo. Tal como tu, também os teus pais têm que se ajustar
a uma vida nova, e cada um à sua maneira. Podem vir a conhecer pessoas novas e
começar a sair, ou podem começar a passar todo o tempo em casa para estar
contigo. O mais provável é que eles estejam tristes e zangados durante algum
tempo. Isto não tem nada a ver contigo; é a forma de eles fazerem o luto desta
situação. Lembra-te que eles não casaram a pensar que um dia iam divorciar-se,
e provavelmente foi muito difícil para eles aceitar que o casamento chegou ao
fim. As coisas devem voltar ao normal depois de os pais se ajustarem à nova
realidade.
4. Tu não podes arranjar as coisas. Isto é
difícil de aceitar, mas há coisas que estão fora do nosso controlo. Apesar de tentares
dar mais atenção aos teus pais e aos teus irmãos quando sentes que estão em
baixo, lembra-te que tu não podes resolver tudo para os outros. A primeira
pessoa com quem tu devias estar preocupado neste momento é contigo. Se notares
que estás a ser mais o adulto do que a criança, tens que parar. Não deves
tentar agradar os outros, deves ser tu mesmo. Isso não quer dizer que não deves
tentar ajudar, mas também deves cuidar de ti próprio.
5. A experiência do divórcio é diferente para
todos. O divórcio afeta as pessoas de diferentes formas, dependendo
da sua personalidade e do ambiente familiar. Enquanto umas pessoas podem querer
que as coisas voltem a ser como eram antes, outros podem sentir-se aliviados
pelo divórcio dos pais. Por vezes até podem ser apanhados de surpresa com o
divórcio dos pais. Independentemente do que sentes, é normal. Lembra-te que
todas as experiências são diferentes, tudo muda para todas as pessoas. O
divórcio é diferente para todas as pessoas.
6. O divórcio não acontece como nos filmes. Apesar
de nos filmes as pessoas conseguirem resolver tudo e voltarem a ser felizes
juntos, isto raramente acontece na vida real. Para a maioria dos pais o
divórcio é um final. Por muitas tentativas que possas fazer para os juntar
novamente, provavelmente isso não vai acontecer. Isto foi uma decisão deles e,
por muito difícil que seja aceitar, não tens controlo sobre a situação.
P: Quanto tempo demora uma pessoa
a habituar-se ao divórcio dos Pais?
R: Esta resposta é complicada.
Pode ser que nunca te acostumes aos teus pais estarem divorciados, mas as
coisas melhoram. Há muitas mudanças para te habituares: viver com um pai de
cada vez, a possibilidade de ter que mudar de casa e, por vezes, ver os pais a
reconstruírem as suas próprias vidas. Tudo isto são coisas que vais vivendo ao
teu próprio ritmo. A grande etapa acontece quando começas a habituar-te às
novas rotinas. Aí a vida torna-se mais fácil e previsível. Lidar com o divórcio
é um processo que vai demorar o seu tempo, mas tu vais conseguir.
P: Já tentei, mas não consigo
perdoar os meus pais pelo divórcio?
R: É perfeitamente normal.
Perdoar e aceitar demora tempo e varia de pessoa em pessoa. Não podes apressar
as coisas, vai acontecer no seu devido tempo.
P: Os meus Pais têm poder
paternal conjunto. O que devo esperar?
R: Tudo depende das
circunstâncias. Se estiveres a dividir o tempo entre os dois pais e entre as duas
casas, durante algum tempo as coisas podem ser difíceis. Tenta ter coisas tuas
em cada casa, pois assim não tens que andar sempre com as tuas coisas de um
lado para o outro e nada se perde pelo caminho.
P: Quando estou na casa de um dos
meus pais todos falam mal sobre o outro pai, e eu sinto-me muito mal e desconfortável.
R: Tens que lhes dizer que não
gostas que digam coisas desagradáveis sobre o outro pai. Diz-lhes que
compreendes que podem estar zangados com tudo o que aconteceu, mas apesar de
tudo continua a ser teu pai/mãe e que continuas a gostar deles. Se isto não
resultar, sempre que começam a falar do assunto, tenta mudar o tema, ou sai do
local onde eles estão para não ouvires a conversa. Ouvir coisas negativas sobre
os pais magoa, mesmo que seja durante pouco tempo, por isso tenta evitar estas
situações.
P: Os meus pais não se entendem.
R: Isto é bastante comum, e a
primeira coisa que tens que te lembrar é que o problema não é teu, é deles e tu
não és responsável por isso. Tenta evitar estar no meio do problema. Estes
assuntos são entre os teus pais, e não contigo, eles que resolvam os seus
problemas.
P: Sinto que estou sob muito
“stress” neste momento. Como posso gerir esta situação?
R: Com todas as mudanças que
surgiram com o divórcio dos teus pais, o stress pode ser demasiado. Por isso, é
importante aprender a gerir o stress. Há boas e más formas de gerir o stress. O
importante é encontrar uma forma que te vai ajudar a sentir melhor.
Aqui vão algumas sugestões:
1) Conversar:
Procura alguém da tua confiança com quem possas conversar. Podes sempre
recorrer ao psicólogo da tua escola.
2) Exercício
físico: Exercício físico provoca bem-estar emocional. É uma forma de
exteriorizar os sentimentos de forma saudável.
3) Diário:
Escreve os teus sentimentos e pensamentos. Isto é uma forma de os compreender e
tentar organizar. Uma forma saudável de exteriorizar o que sentimentos é
escrevendo os nossos sentimentos. Podes fazer de conta que estás a escrever
cartas aos teus pais, ou a conversar com eles, sem a preocupação de ninguém vir
a saber o que escreveste.
P: Quais são as etapas do luto?
R: Depois do divórcio dos teus
pais, é normal fazer o luto da perda da tua família. Existem cinco etapas do
luto: negação, revolta, negociação, depressão e aceitação. Apesar de o luto
normalmente estar associado à morte, sempre que perdemos algo na nossa vida vai
provocar mudanças douradoras. Então temos que fazer o luto. É normal sentires-te
desta forma, acontece a todas as pessoas. É importante perceber que podes vir a
vivenciar qualquer uma destas etapas. O importante é não ficar preso numa das
etapas, como a da revolta ou depressão.
1. Negação:
esta etapa não tende a demorar muito tempo. Podes pensar coisas como “Isto não
está a acontecer comigo.” Todos nós temos dificuldades em aceitar mudanças
grandes nas nossas vidas.
2. Revolta:
Esta etapa pode fazer com que te afastes das pessoas, ou que afastes os outros
devido ao teu comportamento. Podes pensar coisas tipo: “Como é que eles me
fizeram isto?!”
3. Negociação:
Aqui já começaste a aceitar o divórcio e tentas fazer coisas para inverter a
situação. Por exemplo, podes pensar “se eu me portar muito bem e tirar boas
notas eles voltam a juntar-se.”
4. Depressão:
Aqui apercebes-te mesmo que o divórcio é uma realidade e que tu não podes fazer
nada para mudar a situação. Sentes-te triste e choras muito ou não tens vontade
de fazer as coisas que gostavas de fazer antes. Durante esta etapa pensas que
as coisas nunca mais vão voltar a ser as mesmas. Isto é normal e é uma etapa
muito importante do luto, que não deves evitar. Estás a encontrar a tua forma
de gerir tudo o que te tem vindo a acontecer. Mas se te sentires desta forma
durante muito tempo, é importante que procures ajuda.
5. Aceitação:
Aqui aceitas o divórcio como parte da tua vida e sabes que tens que te acomodar
a esta nova realidade. Isto não quer dizer que estás feliz com a situação, mas
pelo menos sabes que com o tempo as coisas vão voltar ao normal.
P: Feriados com a minha família
geram muito stress. Qual é a melhor forma de gerir esta situação?
R: O que é que o Natal, Ano Novo,
Páscoa e Aniversários têm em comum? São celebrações. Mas para crianças filhas
de pais divorciados podem ser mais dolorosos do que divertidos. E aqui há um problema
difícil de resolver. Se os dois pais estão juntos, tens medo de que alguma
coisa aconteça. Se não estiverem, é mais uma lembrança de que a tua família não
é “normal”.
Então, como gerir esta situação?
1) Torna
claro o que queres: as coisas só vão acontecer como tu queres se falares sobre
o assunto. Se eles não souberem como tu te sentes, então nada vai mudar.
2) Começa de
novo: independentemente do que fazes, as festas nunca mais vão ser como eram e
isso não significa que seja uma coisa má. Podem criar novas tradições. É uma
oportunidade de celebrar duas vezes as mesmas festas.
3) Relaxa
com o divórcio e as festas: tudo tem a ver com as nossas perspetivas. Tenta
tornar uma situação potencialmente difícil numa boa situação e divertir-te o
melhor possível. Se estiveres à espera de um desastre, então é isso que vai
acontecer. Pensa simplesmente em te divertires e aproveitar o momento.
P: Existiam assuntos mais
problemáticos que o divórcio na minha família - maus tratos, alcoolismo,
problemas de droga. Como posso gerir estas situações?
R: Ao contrário do que algumas
pessoas pensam, o divórcio não acontece sem haver motivos. Alguns dos motivos
podem ser de pequeno impacto, como o casal começar a se afastar e os
sentimentos mudarem, mas outros podem ter grande impacto, como maus-tratos,
álcool e drogas. Infelizmente, estes motivos são muito frequentes. Se esta é a
tua situação, é importante procurar ajuda.
P. O que posso aprender com o
divórcio?
R: Que a vida continua.